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Frescuragem!!! Ciumes!!! Inquisicoes!!! Histerias!!!Nada de censura!!!

 


quinta-feira, dezembro 23, 2004
 
TEXTO RECICLADO.



Sexta-feira, Fevereiro 27, 2004

Saiu do barracão de empregados ainda com o uniforme da empresa, tinha pressa por que as lojas iriam fechar mais tarde mas os ônibus seguiriam no horário normal. Conferiu novamente o cheque de pagamento e praguejou em silêncio "feladasputas miseráveis, descontaram o dia em que levei o guri no hospital", ele estava doente e nem assim aceitaram o atestado que o doutor fez. Com um sorriso desfalcado caminhou entre os entulhos e seguiu rumo ao mercado popular, lá encontraria o que precisava, mas antes tinha de passar no Bigode pra descontar o cheque, nominal e cruzado "feladasputas pensam que sou rico pra ter conta em banco?" praguejou dessa vez em voz alta. O Bigode era gente fina, cobrava uma tal de CPMF mas trocava por dinheiro o cheque da firma.

Ao chegar na loja de brinquedos do mercado encontrou seu objeto de desejo, custava quase uma mês de trabalho duro na obra mas valia a pena ver o piá sorrir. O pestinha era esperto feito o cão, sabia conta de cabeça e até juntar as letras pra escrever "liquidificador", a professora dele, D. Penha disse que se pudesse colocaria ele pra estudar num colégio de gente bacana, mas estava tentando uma bolsa que talvez viesse no fim do ano.

A vendedora demorou um pouco pra me ver na loja, eu estava invisivel para ela com minhas mãos calejadas e sujas de cimento, mas me perguntou se realmente tinha dinheiro pra pagar. Respondi que sim, e a contra gosto tirou a nota e mandou pro caixa onde uma moça de olhos claros me mediu de cima a baixo me encabulando. O pacote era lindo, cheio de fitas vermelhas e amarelas com bolinhas azuis, o guri vai adorar pensei.

Eram quase 10 da noite quando abri o portão e o Rex já veio latindo e abanando o rabo pra mim, era o único que fazia festa quando chegava; mas hoje seria diferente. A mulher estava vendo novela e se espantou com o embrulho e perguntou o que era, respondi que era pro guri mas ela praguejou e voltou os olhos pra televisão, "espero que essa porra de novela acabe logo, estou com vontade, eu disse". Entrei no quarto, acendi a luz e ele estava dormindo. Tentei acorda-lo com carinho mas se assustou e disse: " Pra se esconder no banheiro, tem tiro da policia de novo?". Acalmei meu pequeno tesouro com um afago e entreguei o embrulho, os olhihos brilhavam, faiscavam de felicidade.

O pacote rapidamente desapareceu e deu a luz ao objeto de desejo do menino: um carrinho à pilha com controle remoto, igualzinho ao que passava na televisão e que ele havia pedido meio sem esperanças de ganhar, estava ali ao seu alcance, era seu todo seu e de mais ninguem. Recebi o abraço mais forte da minha vida, o beijo mais gostoso do mundo, o sorriso mais inocente e feliz que Deus colocou no mundo. Ah pai, disse ele, voçê é maior pai do mundo, te adoro.

Ainda com os olhos marejados ouvi sua vozinha dizendo: Pai adorei, mas será que hoje vai ter janta, estou com fome!

 

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